Declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a segurança das vacinas

30 de Setembro de 2025

AUTOR: Diretoria da SBIm

No dia 22 de setembro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma série de declarações falsas a respeito da vacinação. Diante da gravidade do episódio, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) — embasada em robusta literatura científica e em dados mundiais de farmacovigilância — reafirma a segurança das vacinas, enfatiza a importância de a população manter o calendário vacinal em dia e esclarece que:

  • Inúmeros estudos comprovam que não há relação entre nenhuma vacina e o transtorno do espectro autista (TEA), popularmente conhecido como autismo.

  • A origem do boato é um artigo do gastroenterologista britânico Andrew Wakefield,que alegava que 12 crianças haviam apresentado sinais de autismo e outros distúrbios de desenvolvimento após vacinação com a tríplice viral, que previne o sarampo, a caxumba e a rubéola1. O trabalho, publicado pela revista Lancet em 1998, foi contestado pela comunidade científica por ter graves falhas metodológicas: não era controlado, tinha amostra pequena e resultados inconsistentes.

  • Várias investigações, incluindo estudo de base populacional no Reino Unido e pesquisas em outros países e continentes, foram realizadas para verificar a veracidade dos achados do estudo de Wakefield. Todas descartaram a associação entre a tríplice viral e o autismo 2,3,4,5.

  • Um dos mais amplos estudos sobre o tema foi publicado em 2019 no periódico Annals of Internal Medicine. Ao analisarem registros de saúde de mais de 650 mil crianças dinamarquesas nascidas de 1999 a 2010, os autores também constataram que a administração da tríplice viral não está associada ao aumento da incidência de autismo. A conclusão foi a mesma quando consideradas as variáveis sexo, período de nascimento, administração das demais vacinas oferecidas gratuitamente, histórico de irmão(s) com TEA e presença de alguns fatores de risco, a exemplo da prematuridade, baixo escore de Apgar, fumo durante a gestação, entre outros6.

  • Anos antes, em 2004, após o jornalista britânico Brian Deer denunciar que Andrew Wakefield havia solicitado registro de patente de uma nova vacina contra o sarampo, fraudado informações apresentadas no estudo e recebido pagamento de escritórios de advocacia envolvidos em processos por compensação de danos vacinais, o Conselho Médico Geral do Reino Unido (GMC, na sigla em inglês) instalou um processo contra o médico e seus colaboradores. Em 2010, ele foi considerado culpado por “conduta profissional errônea grave” e teve o registro profissional cassado. A revista Lancet excluiu o trabalho de Wakefield dos arquivos da publicação e a maioria dos colaboradores solicitou a retirada de seus nomes 7,8,9. Apesar de todas as evidências científicas, grupos antivacinistas ainda reproduzem o discurso, que induz à hesitação ou à recusa vacinal.

  • A relação entre o timerosal, substância a base de mercúrio presente em vacinas multidoses desde 1930, e o autismo também foi amplamente investigada e descartada. O tipo de composto utilizado (etilmercúrio) é degradado e expelido rapidamente, portanto, não acumula no organismo ou traz qualquer prejuízo à saúde. Já emitiram posicionamentos positivos sobre a segurança do timerosal nas vacinas a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Food and Drugs Administration (FDA), agência regulatória do governo dos Estados Unidos, a Academia Americana de Pediatria (AAP), entre outros regulatórios10,11,12.

  • Compostos de alumínio, utilizados como adjuvante em algumas vacinas inativadas, não estão associado ao aumento do risco de distúrbios do neurodesenvolvimento — incluindo o autismo —, doenças autoimunes crônicas ou quadros alérgicos e atópicos. Um dos estudos mais recentes a atestar a segurança da substância, divulgado recentemente, incluiu o histórico médico de mais de 1,2 milhão de crianças nascidas na Dinamarca entre 1997 e 2018 13. Vale destacar que a exposição humana ao alumínio é frequente, uma vez que o metal está presente no solo, em chás e ervas, temperos, utensílios de cozinha, latinhas de bebidas, creme dental, cosméticos e até mesmo na água tratada.

  • O uso de vacinas combinadas, que previnem mais de uma doença, não é capaz de sobrecarregar o sistema imunológico. O número de antígenos com o qual o organismo entra em contato devido à vacinação é muito inferior à exposição que acontece naturalmente no dia a dia14.

  • A vacina hepatite B deve ser administrada já nas primeiras horas após o nascimento, para evitar a doença caso o vírus seja transmitido da mãe para o filho durante a gestação, parto ou por meio da amamentação. Nove entre dez recém-nascidos infectados desenvolvem a forma crônica da doença, que pode evoluir com gravidade e levar à cirrose ou ao câncer de fígado. As demais doses devem ser aplicadas preferencialmente até os seis meses de vida.

  • Embora a principal via de transmissão da hepatite B seja a sexual, a infecção pode ocorrer por meio do contato com o sangue e outras secreções, presentes até mesmo em objetos. Entre os materiais potencialmente contaminados estão os utilizados em procedimentos dentários e médicos, na manicure ou podólogo, na realização de tatuagens ou perfurações de piercings, entre outros. Aguardar a adolescência para administrar a primeira dose é um equívoco temeroso, na medida em que a chance de cronificação e de consequências graves é maior quanto mais cedo a infecção acontece.

  • Por fim, é importante lembrar que a ação de autoridades pela descredibilização das vacinas já se mostrou extremamente perigosa em um passado recente, em especial durante a pandemia de covid-19. As consequências do aumento da hesitação vacinal e de um possível desmonte das estratégias de vacinação nos Estados Unidos não se limitarão ao território do país. Todo o planeta será afetado.

  • A história e a ciência já comprovaram que vacinas não prejudicam a saúde. Vacinas salvam vidas. Isso não é opinião, é fato.

 

REFERÊNCIAS

1) Wakefield AJ, Murch S, Anthony A et al. Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive development disorder in children. Lancet 1998;351:637-41.

2) Farmington CP, Miller E, Taylor B. MMR and autism: further evidence against a causal association. Vaccine. 2001;19:3632-5.

3) Davis RL, Kramarz P,Bohlke K et al. Measles-mumps-rubella vand other measles-containing
vacines do not increase the risk for inflammatory bowel disease: a case control study. Arch PediatrnAdolesc Med. 2001;155:354-9

4) Uno Y, Uchiyama T, Kurosaw3a M et al. The combined measles mumps and rubella vacines and
the total number of vacines are not associated with development of autismo spectrum disorde:
the first cas-control study in ASIA. Vaccine 2012;30:4292-8.

5) Gerber JS, Offit PA. Vaccines and autism: a tale of shifting hypotheses. Clin Infect Dis 2009;48:456-61.

6) Hviid, A., Hansen, J. V., Frisch, M., & Melbye, M. (2019). Measles, Mumps, Rubella Vaccination and Autism: A Nationwide Cohort Study. Annals of internal medicine, 170(8), 513–520. Disponível em https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M18-2101. Acesso: 23/09/2025

7) Deer B. How the case against the MMR vaccine was fixed BMJ 2011; 342 :c5347
doi:10.1136/bmj.c5347. Disponível em: https://www.bmj.com/content/342/bmj.c5347. Acesso:
23/09/2025

8) Eggerston L. Lancet retracts 12-year-of article linking autism to MMR vacines.
CMAT.2000;182:E199-200.

9) Levi GC. Recusa de vacinas- Causas e consequências. 2016. 2 ed – São Paulo- Segmento Farma.

10) World Health Organization (WHO). The Global Advisory Committee on Vaccine Safety. Safety
of thiomersal-containing vaccines. Disponível em: https://www.who.int/groups/global-advisory-committee-on-vaccine-safety/topics/thiomersal-and-vaccines/safety. Acesso: 23/09/2025

11) U.S Food & Drug Administration. Thimerosal and Vaccines. Disponível em:
https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/thimerosal-and-vaccines. Acesso: 23/09/2025

12) American Academy of Pediatrics. Fact Checked: Extensive Research Shows Thimerosal is Safe.
Disponível em: https://www.aap.org/en/news-room/fact-checked/fact-checked-extensive-research-shows-thimerosal-is-safe. Acesso: 23/09/2025

13) Andersson, N. W., Bech Svalgaard, I., Hoffmann, S. S., & Hviid, A. (2025). Aluminum-Adsorbed Vaccines and Chronic Diseases in Childhood : A Nationwide Cohort Study. Annals of internal medicine, 10.7326/ANNALS-25-00997. Advance online publication. Disponível em:
https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/ANNALS-25-00997. Acesso: 23/09/2025

14) Centers for Disease Control and Prevention. Questions and Concernes: Multiple Vaccines at
Once. Disponível em https://www.cdc.gov/vaccine-safety/about/multiples.html. Acesso:
23/09/2025