Voltando a falar do VSR nos idosos

27 de Fevereiro de 2024

Nossa primeira postagem do BLOG, deste ano, foi sobre a expectativa da chegada de uma vacina contra este vírus para os idosos, já registrada na ANVISA, esta novidade em nosso meio é muito benvinda, já que não existe ainda uma vacina em uso no Brasil contra este agente. O VSR é mais conhecido dos pediatras e neonatologistas, por causar bronquiolite nos prematuros e RN, mas ainda é um perigo mal conhecido, dentre os idosos.

Na verdade, há um risco entre os adultos e principalmente os idosos, porque há uma forte correlação entre a idade avançada e o risco de doença pelo VSR ser grave e levar a hospitalização, mas é acima dos 80 anos que se notam mais as consequências desfavoráveis, causadas em grande medida pela imunossenescência e pelo elevado número de comorbilidades presentes neste grupo etário. Quanto mais comorbilidades o doente tiver, maior a probabilidade da infeção respiratória aguda pelo VSR causar complicações que podem levar à perda de autonomia, incapacidade para continuar a residir na sua casa, hospitalização e morte. Muitos doentes com fragilidade, quando contraem VSR, têm maior risco de necessitar de serem hospitalizados e, além da maior probabilidade de perderem a funcionalidade, podem ainda contrair uma infeção nosocomial e eventualmente perder a capacidade para, no futuro, viverem independentes. Este é um desfecho grave que pode resultar de uma infeção pelo VSR.

O envelhecimento leva a que o sistema imunitário não responda tão bem a muitas infeções, em grande parte devido à redução da atividade das células T, à redução da função das células assassinas naturais e a menor produção e função dos anticorpos. Em consequência, há uma redução dos níveis de citocinas inflamatórias, como a interleucina 6, do que resulta menor ocorrência de febre e uma menos eficiente eliminação do vírus. Adicionalmente, nos doentes idosos com doença cardíaca ou respiratória há deficiente função mucociliar da árvore brônquica, com menos tosse e menos eficiente expulsão de muco. Isto pode causar menos sintomas no início da doença e uma mais lenta recuperação.

Por outro lado, estas infeções são altamente inflamatórias e trombóticas constituindo fatores de risco de eventos cardiovasculares como o enfarte do miocárdio e o AVC. Este é um argumento persuasivo a que se pode recorrer, informando o doente que, ao ser vacinado, está, de facto, também a fazer prevenção cardiovascular.

O aumento do emprego da testagem rRT-PCR permitiu reconhecer o VSR como uma causa importante de infeção aguda respiratória. A ênfase diagnóstica deve ser colocada nos doentes admitidos no hospital, pois são esses os que estão em estado mais grave. Nestas circunstâncias, o ideal é realizar um painel de testes respiratórios. Quanto mais grave a situação clínica, mais se justifica que o doente seja testado.

Como já é de conhecimento, principalmente após a pandemia da COVID-19, o VSR, tal como a Covid-19 e a gripe, não são apenas doenças do aparelho respiratório, caracterizando-se por frequentemente causarem descompensação ou exacerbação de doenças subjacentes, como a asma, a DPOC, doença renal e a insuficiência cardíaca.

Portanto, aguardamos a chegada de mais este imunobiológico, para auxiliar os médicos na batalha contra este agente e mais estudos entre nós, aqui no Brasil para fortalecer o conhecimento, nessa importante faixa etária e permitir uma longevidade mais saudável.